O ESPORTE DE ASSU E REGIÃO, OBRIGADO PELA VISITA

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

No RN, Garrincha fez gol, visitou fã no hospital e ganhou até uma gaiola

Header_30anos_sem-Garrincha (Foto: infoesporte)

Garrincha veio pela primeira vez ao RN para jogar pelo Alecrim (Foto: Acervo/Ribamar Cavalvante) 
Garrincha com a camisa do Alecrim: momento
histórico no RN (Foto: Acervo/Ribamar Cavalvante)
Três jogos, duas vitórias, uma derrota e um gol, além de uma nova gaiola e o carinho de um fã que estava hospitalizado. Este é o saldo da passagem do anjo das pernas tortas pelo Rio Grande do Norte, que teve a honra de receber as três partidas de exibição de Garrincha entre as décadas de 1960 e 1970. Neste domingo, completam-se 30 anos de sua morte, mas as lembranças das duas vezes em que esteve em Natal e da ocasião em que foi a Currais Novos, distante 170 quilômetros da capital, permanecem na memória de milhares de potiguares. Os jogos eram divulgados como beneficentes, mas, segundo a crônica esportiva local, o valor cobrado era apenas para pagar o cachê do gênio da bola, o que não afastou a torcida dos estádios. Muito pelo contrário. Na sua primeira exibição, no dia 4 de fevereiro de 1968, defendendo a camisa do Alecrim Futebol Clube, 6.000 pagantes lotaram o, até então, único estádio da cidade: o Juvenal Lamartine. O Verdão potiguar entrou em campo com Augusto; Pirangi, Gaspar, Cândido e Luizinho; Estorlando, João Paulo, Garrincha (Zezé), Icário; Capiba (Tarciso) e Burunga. A partida contra o Sport terminou com a vitória dos visitantes por 1 a 0, com gol de Duda. Mas para quem estava lá, como o ex-jogador Ribamar Cavalvante, o placar foi o menos importante. Todos ali estavam conscientes de que era um grande craque em final de carreira. Mas, de qualquer maneira, era uma atração. O estádio recebeu um público excepcional. Tratava-se de um ídolo do futebol brasileiro, e nós estávamos diante dele - revela com saudosismo o “Enciclopédico”, que na época tinha 23 anos e também esteve presente na segunda passagem do ídolo por sua terra. Neste mesmo dia, Mané Garrincha mostrou aos norte-rio-grandenses que não era bom só de drible. Ele ficou sabendo ainda no campo que havia um fã potiguar que não pôde ir ao estádio. O jornalista e pesquisador Everaldo Lopes lembra que o craque fez questão de visitá-lo. Depois do jogo ele soube que tinha esse paciente bastante doente em uma casa de saúde da cidade e foi até lá visitar o fã, que tinha o sonho de conhecê-lo. Apesar do futebol meio apagado, ele colhia frutos por conta do prestígio, que aumentou após esse episódio - declarou Everaldo.
Após a partida, Garrincha foi a um hospital visitar um fã (Foto: Acervo/Alecrim F.C.) 
Após a partida pelo Alecrim, Garrincha foi a um hospital visitar um fã
(Foto: Acervo/Alecrim F.C.)
A partida até hoje é motivo de orgulho para os torcedores alecrinenses. Há dois anos, a diretoria do clube lançou uma camisa retrô com o número 7 e o nome de Garrincha.
Excursão rubro-negra
Um ano após chegar ao Flamengo, o camisa 7 participou de uma excursão do clube carioca à região Nordeste do país, em 1969. A cidade de Natal foi uma das capitais contempladas e, na sua segunda partida no Juvenal Lamartine, Mané marcou um dos gols na vitória por 2 a 1 sobre o ABC. Dionísio anotou o primeiro dos visitantes, e Beto descontou para os donos da casa. Ribamar lembra que as condições físicas do seu ídolo estavam ainda mais debilitadas do que no ano anterior, mas ainda assim ele fez com que a torcida vibrasse com algumas investidas e as famosas paradinhas. Aquelas arrancadas com paradinhas, dribles de corpo levaram a torcida ao delírio. Eu não perdi nenhuma das duas partidas. E o que mais me chamou atenção era que aquele público presente foi no sacrifício só para ver Garrincha. Muitos trabalhadores suaram bastante para pagar aquele ingresso - comenta o ex-jogador, que, aos 67 anos, ainda tem as fotos do ídolo nas partidas.
'Marcha' para o interior
Em nenhuma das partidas, Garrincha chegou a jogar os 90 minutos. Todos os jogos foram transmitidos pelas rádios locais, para alento daqueles que não tiveram condição de ir ao estádio. Mas para quem morava no interior do estado, a chance surgiu no dia 2 de setembro de 1973. O bola de ouro de 1962 seguia fazendo jogos promocionais Brasil afora. No estádio Coronel José Bezerra, a cidade de Currais Novos viu de perto as pernas tortas mais famosas do futebol mundial. Após uma passagem por Patos, na Paraíba, o empresário do ponta entrou em contato com a prefeitura de Currais Novos e organizou uma partida, que Mané jogaria pela seleção do município contra o Centenário de Parelhas. Em sua última aparição no Rio Grande do Norte, mais uma vitória a seu favor: 2 a 1. Foram dois gols de Nabor para o time curraisnovense e um de Canteiro para os parelhenses. O então repórter da Rádio Brejuí, João Jair Silva, viajou  de Natal para entrevistar o homem que parou Currais Novos. Aos 63 anos, o professor aposentado lembra do alvoroço que foi o anúncio da presença do craque.
João Jair entrevistou o homem que parou Currais Novos (Foto: Acervo/João Jair Silva) 
João Jair entrevistou o homem que parou
Currais Novos (Foto: Acervo/João Jair Silva)
A cidade ficou em polvorosa. Saiu em todas as rádios e jornais. Ele chegou no dia da partida, um domingo de manhã, e ficou hospedado no Tungstênio Hotel. Uma multidão cercava o prédio querendo vê-lo - afirmou João Jair ao GLOBOESPORTE.COM. Garrincha, que tem esse apelido por causa de um passarinho, chegou à cidade cheio de pássaros coletados nos lugares por onde passou. Todos em uma única gaiola, que, de tão grande, não passava na porta do hotel. Foi necessária a ajuda de um popular, que emprestou uma gaiola menor. Passado o episódio, João Jair foi um dos poucos que teve acesso ao saguão do hotel para entrevistar o camisa 7. Durante toda a manhã, conversaram sobre muita coisa, em especial a Copa de 62. Antes do jogo começar, nova entrevista. Desta vez, a pegunta foi sobre a satisfação de jogar diante daquelas 3.000 pessoas que lotavam o estádio. Além de uma boa resposta, aquele momento rendeu uma foto que já rodou o Brasil. Ele me disse que estava sentindo uma imensa alegria porque a missão dele era alegrar o povo. Nesse dia inesquecível, pude notar que Garrincha era uma pessoa inocente, não tinha maldade. Acredito que por isso ele foi muito ludibriado na vida e não conseguiu garantir o próprio futuro - disse o aposentado.
Por Matheus Magalhães Natal 

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