Lobão, eleito em 2013 para mandato de dois anos na presidência do Galo.(Divulgação.)
O ano de 2015 pode decretar a falência de um dos clubes mais importantes
do interior do Rio Grande do Norte, o Corintians-RN. Sem dinheiro em
caixa e sem qualquer recurso para montar o time de futebol profissional
para a disputa do Campeonato Potiguar do próximo ano, o presidente da
entidade, Raimundo Inácio Lobão, disse que amarga uma dívida de quase R$
70 mil, oriunda do estadual deste ano, e que não sabe como quitar os
débitos junto aos comerciantes da cidade de Caicó, na região Seridó do
estado. O dirigente do galo do Seridó, Lobão esteve em Natal com a intenção de se
reunir com o presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol,
José Vanildo, mas o encontro não ocorreu. O presidente da FNF viajou a
São Paulo para se reunir com Marco Polo Del Nero, futuro presidente da
CBF, e deve retornar à capital potiguar no fim de semana. O objetivo da
reunião entre Lobão e Vanildo seria a oficialização da retirada do
Corintians do estadual de 2015. Ao
GloboEsporte.com,
o dirigente do Galo do Seridó lamentou a crise financeira que o clube
enfrenta. Segundo ele, a crise já dura seis anos e ainda afirmou que o
clube pode decretar falência. Fundado em 1968, o único título estadual
da equipe foi conquistado em 2011.
Lobão, que está no clube há mais de
20 anos, foi uma das figuras responsáveis pela montagem do elenco
campeão daquele ano, ao vencer o América-RN, em Caicó. Contudo, apenas
as boas lembranças restaram daquela época. Financiado por políticos
locais e por uma empresa de combustíveis potiguar, o Galo se tornou
referência no planejamento do futebol e montou um forte elenco naquela
temporada, sob o comando do treinador Pedrinho Albuquerque. Estou há 20 anos no Corintians de Caicó e nunca tinha me reparado com
uma situação tão crítica como essa. Para ser bem sincero, estamos
enfrentando problemas financeiros nos últimos seis anos e não vejo outra saída a não ser a falência. Em 2001, quando
fomos campeões estaduais, por exemplo, eu atuava como diretor de
futebol, mas tomava conta do clube. Nessa época, tínhamos mais
empresários e políticos que vivenciavam a rotina do clube. Os torcedores
geravam uma pequena receita para o clube, com o pagamento de carnês, uma espécie de sócio-torcedor.
Eram bons tempos em que tínhamos recursos para contratar bons jogadores e
termos uma estrutura adequada para o clube - recorda. No
estadual desse ano, a folha salarial do Corintians era de quase R$ 50
mil, destinada exclusivamente ao pagamento do treinador, da comissão
técnica e dos jogadores. O Estádio Marizão, em Caicó, não tinha custos
para o clube já que o poder executivo era parceiro. Outra baixa nos
recursos do clube foi após o período eleitoral, já que alguns políticos
que ajudavam o time não conseguiram se eleger. O político
que me ajudava ultimamente não conseguiu se eleger. Ficou ainda mais
complicado. Dos empresários de Caicó, poucos ajudavam o clube e o máximo
que recebia eram uns R$ 3 mil, que dava para pagar o salário de três
jogadores - explica.
Sem
investimento, o Corintians sofre com a falta de estrutura e de
profissionalização do futebol. Por outro lado, Globo FC e Força e Luz
fecharam parceria e prometem brigar pelo título do Campeonato Potiguar
em 2015. As duas equipes utilizam a mesma estrutura - o Complexo
Barretão, em Ceará-Mirim - e recebem o investimento do presidente do
Globo, Marconi Barretto. A ausência de parcerias ou de um plano
orçamentário que possa atrair dinheiro aos cofres do Galo comprometeu os
planos da direção seridoense. Raimundo Lobão lamentou o afastamento dos
empresários do clube, que, segundo ele, atuaram com "uma falta de bom
senso". O dirigente ressalta que o futebol gera diversas receitas, tanto
para os clubes quanto para as empresas, e que não entende o porquê do
ausência de investidores. Eu fico muito triste e vejo uma falta de bom senso dos empresários
potiguares, porque a única coisa que dá visibilidade a uma empresa é o
esporte, e, principalmente, o futebol. Atualmente, ter um pouco mais de
R$ 40 mil para bancar uma folha de pagamento do clube é complicado, como
fizemos esse ano. No fim das contas, eu sempre arcava com um saldo
negativo muito grande. Estou com dívidas de R$ 70 mil no comércio de
Caicó e não sei como pagar. Como é que vou começar um campeonato devendo
o outro? - lamenta Lobão. No
final do mês de novembro, a empresa RWS Sports, que havia feito uma
parceria com o Corintians, se mostrou interessada em renovar o acordo.
No entanto, os problemas que ocorreram em 2013, como a falta de
pagamento de alguns jogadores e a quebra de cláusulas contratuais, foram
pontos que impediram o novo acerto. Segundo Lobão, o conselho
deliberativo do clube votou contra a renovação da parceria, mas os
torcedores insistem para que o clube dispute o campeonato, mesmo sem
saber o buraco nas finança do clube. Eles (RWS Sports) se
interessaram em retomar a parceria e ainda estão tentando, mas está
complicado. Eu não tenho tanta confiança, apesar dos torcedores
pressionarem para ver o time em campo. Mas como é que eu vou sustentar
um time sem dinheiro? - questiona. A decisão oficial sobre a
desistência do Corintians só deve acontecer na próxima semana, em
encontro entre Lobão e José Vanildo. Caso a saída do Galo do Seridó se
confirme, a FNF deve adequar a tabela da competição, que passaria a ter
nove equipes.
Por Jocaff SouzaNatal