Confirmada na disputa do cinturão peso-palha do Invicta,
potiguar lembra lesão que quase encerrou sua carreira e de luta contra
drogas na adolescência.
Cláudia Gadelha é tricampeã mundial de jiu-jítsu e
está invicta no MMA (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)
A brasileira Cláudia Gadelha foi confirmada na disputa do cinturão do
peso-palha (até 52kg) do Invicta FC, evento exclusivamente feminino de
MMA, nesta sexta-feira. Tricampeã mundial no jiu-jítsu e invicta em nove
lutas no MMA, Gadelha vai enfrentar a americana Carla Esparza, que já
tem dois triunfos pela organização e um cartel de oito vitórias e duas
derrotas, no dia 5 de janeiro de 2013, em Kansas City, EUA. É a
realização de um sonho antigo, que quase morreu há dois anos por conta
de uma séria lesão na perna. Em 2010, Claudinha estava no Texas, treinando para a seletiva do ADCC
(prestigioso torneio de luta agarrada). A lutadora tinha acabado de
conquistar sua sexta vitória seguida no MMA e estava na expectativa para
fechar contrato com um grande evento de lutas. Foi quando sofreu uma
pancada na perna, durante um treino de muay thai, que quase encerrou sua
carreira. A lesão afetou o sistema venoso e causava muitas dores e inchaço, não
conseguia treinar. Foi uma fase delicada, porque cinco médicos me
falaram para parar de treinar, que eu nunca mais ia conseguir voltar.
Mas sofri muito para chegar até onde cheguei, não ia desistir, Até que
fui orientada por um amigo para ir em um angiologista na Santa Casa em
São Paulo e ele resolveu me operar. Depois de seis meses, estava
treinando, e, um ano depois, fiz minha estreia internacional, com
vitória. Só o fato de pisar no tatame de novo já me deixou muito feliz -
conta Claudinha.
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Mesmo antes desse episódio, a vida nunca foi fácil para a lutadora.
Claudinha sentia vontade de praticar artes marciais desde criança, mas
os pais não a deixavam treinar por achar “que não era coisa para
mulher”. Ela começou malhando escondido aos 14 anos, mas foi depois de
assistir a um evento de MMA em Mossoró, sua cidade natal, que decidiu
que queria a luta como profissão. Na ocasião, conheceu o mestre Jair
Lourenço, da Kimura Nova União de Natal, que a convidou para um treino
quando estivesse na capital. Tive uma adolescência muito conturbada, me envolvi com drogas e más
amizades e meus pais foram obrigados a me levar a Natal para que eu
ficasse longe de tudo que vinha fazendo. Por pura coincidência, meu pai
alugou um apartamento em cima da sede da Kimura, lembrei do convite do
Lourenço e corri lá. No mesmo dia, já fiz o primeiro treino e amei!
Parecia que tirava um peso das minhas costas, eu não queria mais fumar,
nem usar drogas, porque sabia que, no dia seguinte, ia precisar do meu
condicionamento físico para treinar bem, e isso foi me afastando das
coisas ruins. Com 15 dias de treino, participei da minha primeira
competição e me consagrei campeã, amei a sensação e resolvi me dedicar
mais. Depois disso, comecei a viajar para competir em todo canto e o
esporte foi me ensinando como eu deveria lidar com a vida. Hoje sou uma
pessoa completamente diferente, graças às artes marciais - lembra.
Claudinha posa com José Aldo (esq.) e Hacran Dias
na sede da Nova União (Foto: Ana Hissa/SporTV.com)
O próximo passo em sua carreira foi se mudar para o Rio de Janeiro,
após ter contato com a equipe Nova União, em 2007, quando disputou o
Brasileiro e o Mundial de jiu-jítsu na cidade. Na academia, conheceu
Michelle Tavares, primeira brasileira a lutar MMA internacionalmente, e
contou com a ajuda dela para se mudar em definitivo. No ano que vem, ela
completa seis anos no Rio.
Já estava na faculdade de Direito e, quando terminei o segundo
período, meu pai me mandou o dinheiro para pagar o curso. Com ele, eu
comprei a passagem e fui embora para o Rio. Só avisei para o meu pai,
porque minha mãe jamais iria aceitar. Quando estava no avião, liguei
para ela chorando, disse que estava indo em busca do sonho da minha vida
e pedi para ela me abençoar. Ela me abençoou chorando e, a partir daí,
começou uma nova jornada.
Na Nova União, Claudinha é uma das poucas mulheres que treinam diariamente com campeões do UFC como
José Aldo
e Renan Barão. Faixa-preta de jiu-jítsu, ela divide o tempo entre a
preparação física, boxe, muay thai e o sparring. Seu talento é
reconhecido pelos companheiros.
A evolução dela é impressionante, a gente que acompanha de perto sabe
o quanto ela é esforçada e dedicada. Ela chegou faixa-branca de
jiu-jítsu e já está na preta, mas, quando começou a treinar MMA, se
dedicou muito nas outras áreas para não ser uma lutadora unidimensional.
Treinar aqui na Nova União faz com que a evolução seja mais rápida e
estamos sempre dispostos a ajudar, não tem diferença por ela ser mulher,
aqui somos todos atletas, independentemente de sexo. Tenho certeza que o
caminho dela é de muitas vitórias – diz José Aldo.
Por Ana Hissa
Rio de Janeiro