Quando
saiu a lista de convocadas para participar da semana de treinos da
seleção brasileira feminina, Antônia leu o próprio nome e quase não
acreditou. Instantaneamente, lembrou-se da infância vivida no pequeno
município de Riacho de Santana, localizado a 425 quilômetros de Natal e
que tem apenas 4 mil habitantes, e da primeira vez em que sonhou em se
tornar jogadora de futebol. Aos poucos, compreendeu que o sonho, agora, é
real: aos 22 anos de idade, a atleta potiguar veste a camisa verde e
amarela pela primeira vez na carreira. Até sexta-feira, ela participa do
trabalho comandado pela treinadora Emily Lima na Granja Comary, em
Teresópolis. Chegar à seleção brasileira é estar vivendo a
realização de um sonho. Tive uma surpresa muito grande com a convocação e
estou ansiosa para jogar porque não era algo que eu esperava nesse
momento. Eu sempre estive no futsal, tive poucas chances no campo e
consegui chegar até aqui. Mas o futebol está dentro de mim. Sendo futsal
ou campo, a essência é a mesma - declarou por telefone.
Potiguar chega à Seleção Feminina e diz estar vivendo a realização de um sonho
(Foto: Kin Saito/CBF)
Sair
de Riacho de Santana, com cerca de 4 mil habitantes, e alcançar a
seleção brasileira de futebol é inexplicável para a atleta. Até receber o
convite da equipe Valinhos para participar da Copa Juventus em 2016, a
carreira de Antônia estava restrita ao futsal. Desde criança, ainda no
município em que nasceu, a quadra foi o ambiente que a atleta escreveu a
própria história. Por isso, o salto das quadras para a Seleção de campo
é um espanto, mas positivo. O primeiro contato com o futsal
foi durante as aulas de Educação Física. Antônia gostou do esporte,
passou a integrar a equipe de futsal feminino da escola de Riacho de
Santana para disputar os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte e ganhou
destaque na competição. Foi nessa época, ainda criança, que recebeu o
convite para jogar em uma escola de Natal. Com o incentivo da família,
passou a atuar também na equipe feminina de futsal do ABC, com os
professores Esmerino Análio e Izabel Carla, e quase viu o sonho ruir
devido às dificuldades encontradas no cenário do Rio Grande do Norte. Quando eu jogava pelo ABC, em 2009, só tinha a gente no estado com
equipe de futsal. Não tinha competitividade e a estrutura era pequena.
Sabia que se eu ficasse aqui, as coisas seriam mais difíceis. Foi então
que eu decidi ir para São Paulo correr atrás do meu sonho. Minha mãe
mora aqui e isso facilitou a minha vinda. Eu ainda estava no ensino
médio e comecei a jogar pela escola - contou.
Antônia Silva traçou carreira no futsal, mas conseguiu alcançar Seleção no campo
(Foto: Arquivo Pessoal)
Em
São Paulo, passou a fazer parte da equipe de futsal da Portuguesa. Em
2011, foi para o São Bernardo e no ano seguinte chegou a equipe de São
José dos Campos, onde permaneceu até 2016. Foi então que surgiu o
convite da equipe de Valinhos para atuar no futebol de campo durante a
Copa Juventus. Na competição, a jogadora ostentou a camisa 10 da equipe e
foi vice-campeã. Ao rever os desafios e os riscos que passou
até o lugar que alcançou, a jogadora não se arrepende de nada, mas
lamenta a saudade que tem da maior parte da família, que mora no Rio
Grande do Norte. A maior dificuldade que eu passei foi ficar
longe da família. A estrutura aqui em São Paulo é bem melhor que em
Natal. Recebo bolsa, alojamento, tem muitos times competitivos... É um
cenário muito melhor. Mas a maior parte da minha família está no Rio
Grande do Norte. Se eu tivesse que falar algo para as meninas que estão
começando agora, diria para não desistirem do sonho, por mais que ele
pareça impossível - revelou.
A grande inspiração
Antônia
Silva tem como grande inspiração a jogadora Formiga, recém-aposentada
na Seleção. As duas jogam na mesma posição em campo, como volantes. Com
38 anos de idade, Formiga é a única atleta de futebol a participar seis
Olimpíadas e se destaca pela dedicação e garra demonstrada durante a
carreira. E é pela sua ausência na Seleção que Antônia tem o único
lamento diante de um passo tão grande na carreira. A Formiga
é minha grande inspiração. Vejo que eu tenho uma força de vontade
parecida com a dela, que aguentou jogar seis Olimpíadas. A garra em
campo, o posicionamento... Tudo que ela faz acaba me inspirando como
jogadora. É uma pena que ela tenha se aposentado (na Seleção). Eu tenho o
sonho de vestir mais vezes a camisa da Seleção e queria muito jogar ao
lado dela - disse.
* Estagiário sob a supervisão de Augusto César Gomes.
Por Luiz Henrique*Natal