
Durante
toda a temporada, uma batalha silenciosa era travada entre os times da
capital do Rio Grande do Norte, ABC e América, contra os outros clubes
do país. Todos em busca de um só objetivo: entrar ou permanecer no grupo
principal da Timemania, loteria federal que foi criada em 2008, para
ajudar, financeiramente, os clubes do Brasil, principalmente em relação a
dívidas trabalhistas. O alvinegro, pela campanha de conscientização que
a direção abecedista fez nos dois últimos anos, passou 2012 sempre
entre os primeiros colocados. Já o alvirrubro, graças aos incessantes
pedidos do presidente Alex Padang, conseguiu reagir dentro de
"competição" e entrou no G1 nos últimos concursos, deixando para trás o
Avaí/SC, seu grande adversário nesse ano. Mas, qual o motivo do
times do Rio Grande do Norte lutarem tanto para alcançarem o grupo
principal da Timemania? A resposta é simples, de acordo com os
presidentes de ABC e América: mais dinheiro na próxima temporada. A
conta é simples: os clubes que conseguem ficar na elite da loteria
federal, recebem algo em torno de R$ 100 a R$ 200 mil mensal da Caixa
Econômica Federal. Quem fica nos grupos inferiores, recebem menos. E
essa diferença chega a ser brutal. Se o ABC, em 2012, recebeu,
ao todo, algo em torno de R$ 1,5 milhão, por estar no grupo principal. O
América, que está no grupo dois, recebeu um pouco mais da metade do seu
rival, R$ 800 mil durante toda a temporada. Esses números podem variar,
para mais, ou para menos, dependendo da quantidade de apostas nos
concursos semanais da Timemania. Para se ter uma ideia do valor
que a loteria federal tomou nos clubes do Brasil, dos 20 integrantes do
grupo principal, 16 equipes são da série A do brasileiro. Com exceção do
Fortaleza/CE, que está na série C do Brasileiro, Ceará, ABC e América,
todos da segunda divisão, os outros clubes são os principais do Brasil,
que, teoricamente, não precisariam de um valor tão baixo, para as
equipes do eixo Rio-São Paulo, considerando que, para esses clubes, R$
200 mil mensais, não representa muito na folha salarial. "A
Timemania é a segunda maior receita do ABC. Só fica atrás apenas do
nosso programa de sócio torcedor. Não podemos ficar sem esse dinheiro.
Esse ano, tivemos, em média, uma arrecadação girando entre R$ 100 e R$
110 mil mensais. É um valor considerável para o ABC", afirmou o
presidente do clube, Rubens Guilherme Dantas. Pensamento
semelhante tem o presidente do América, Alex Padang. Mas, no caso do
alvirrubro, a luta é para entrar no grupo principal da Timemania em
2013. O clube conseguiu desbancar o Avaí nos últimos concursos, está
entre os 20 melhores nessa reta final de temporada e agora espera o
resultado do concurso realizado ontem, o último do ano, para saber em
que posição terminou a temporada. "A Timemania é o segundo maior
patrocínio da história do América. E olhe que passamos toda temporada
fora do grupo principal. Se, na próxima temporada, estivermos entre os
20 melhores, vai ser o maior patrocínio da história do clube, por isso a
importância que demos a Timemania durante todo esse ano, pedindo aos
torcedores que apostassem no América como time do coração. As contas são
simples. Se nesse ano recebemos R$ 800 mil, no próximo, ficando no G1,
essa receita pode pular para R$ 2 milhões", revelou Alex Padang. A
Timemania funciona da seguinte maneira: o apostador deve marcar 10
números e é sorteado com até sete. Além disso, deve marcar, no volante
de aposta, o seu time do coração. Aqueles clubes que tiverem um maior
número de apostas, vão ficando nas primeiras colocações. No começo, a
loteria era composta por quatro divisões, com 20 times cada, totalizando
80 equipes. Mas, a Caixa Econômica Federal fez alguns ajustes e alterou
o sistema. Agora, são três grupos. Os dois primeiros são de 20 grupos. O terceiro fica com 40 equipes.
Caixa Econômica explica como tudo funcionaA
Timemania foi criada para ajudar os clubes que tinham dificuldades de
honrar com seus compromissos trabalhistas. Por isso que as equipes, hoje
em dia, brigam para estar no grupo principal, já que o repasse,
realizado pela Caixa Econômica Federal, é maior para os 20 primeiros
colocados. "A loteria foi criada para estimular as pessoas a apostar nos
seus times do coração. Essa é a verdadeira concorrência. Colocar o
time do coração nas primeiras posições. Aqui no Rio Grande do Norte,
como os clubes não tem uma arrecadação muito volumosa, em relação a
patrocínios, acaba ajudando na hora de pagar a folha salarial", revelou o
supervisor de loteria no Rio Grande do Norte, da Caixa Econômica
Federal, Vágner Furtado Cavalcanti. Mas, algumas regras devem
ser seguidas, de acordo com o supervisor da CEF, para que os clubes
recebam todo o valor que foi alcançado nas apostas. "Se o clube estiver
devendo os impostos, ou encargos trabalhistas, esse dinheiro, vai
primeiro para o pagamento dessa dívida, até zerá-la. Vou dar um exemplo:
se um clube, do grupo principal, arrecada R$ 200 mil e tem R$ 100 mil
de dívida, só vai receber R$ 100 mil, porque o restante vai ser para
quitar o que está devendo", explica Cavalcanti. ABC e América
ainda brigam por uma posição no grupo principal da loteria. O maior
adversário das equipes do Rio Grande do Norte é o Avaí/SC. Mas, de
acordo com Vágner Furtado, as vagas devem ficar mesmo com as equipes
potiguares. "Por isso que os clubes disputam para ficar no G1, por o
repasse ser maior. Pelo andar da carruagem, pelos últimos sorteios e
pela colocação dos clubes do estado, é bem provável que, tanto ABC,
quanto o América, fiquem entre os 20 primeiros para a próxima
temporada", finaliza.
Presidentes dos clubes contam com a torcidaAo
contrário do que acontecem com os times do sul e sudeste do país, onde
as empresas compram várias apostas da Timemania, aqui no Rio Grande do
Norte, as apostas ficam, quase que exclusivamente, a cargo dos
torcedores. Por isso, os dirigentes tanto de ABC, quanto de América,
investiram pesado em jogadas de marketing para conscientizar a torcida o
quanto é importante, para o clube, que eles comprem a ideia de apostar
na loteria federal e marcar o time do coração. Durante toda a temporada,
promoções, sorteios, e até um disque-Timemania, foram algumas das ações
do times de Natal na luta para se manter no G1 da loteria.
Aldair Dantas
O presidente do América, Alex Padang fez elogios à torcida
"O
torcedor tem que entender, de uma vez, que a Timemania é muito
importante para o clube. Ele ajudando, além de concorrer a um bom
prêmio, com mais chances do que a mega-sena, ajuda seu clube do coração.
Esse ano, eu não tenho do que reclamar da torcida do América. Eles
abraçaram nossa ideia de que era importante apostar na Timemania e
conseguimos subir e muito de classificação, entrando no G1 e tirando uma
diferença de mais de 100 mil apostas para Avaí", afirmou o presidente
alvirrubro, Alex Padang.
Aldair Dantas
Para
Rubens Guilherme, presidente do ABC, o torcedor tem respondido
bem
Para
Rubens Guilherme Dantas, presidente do ABC, o torcedor tem respondido
bem aos pedidos alvinegros em apostar no time do coração. "O torcedor é
nosso principal aliado nessa batalha que é a Timemania. Sem eles, não
conseguiríamos ficar, por dois anos consecutivos, entre os 20 melhores
da loteria. Para o próximo ano, não podemos deixar cair. Esse dinheiro
da Timemania é muito importante para o clube", finalizou.
Loteria foi criada para ajudar os clubesA
Timemania foi criada para ajudar os clubes participantes a pagarem as
suas dívidas com o governo brasileiro. Do total arrecadado, os clubes
recebem 22% que são destinados ao pagamento de dívidas com o INSS, FGTS,
Receita Federal e outros impostos devidos à União. A loteria esportiva
funciona como a Quina, porém em vez de escolher 5 números para acertar
os 5, escolhe 10 para acertar 7, além de ter um sorteio separado para a
escolha de um time. No total, 80 clubes participam da Timemania. Vinte
da Série A e vinte da Série B do Campeonato Brasileiro, sendo que as
vagas restantes são para agremiações com maior número de títulos do
Campeonato Brasileiro (Série A, B ou C), de estaduais, Taça Brasil ou
Copa do Brasil. Têm também direito a participação clubes que tenham
disputado, no mínimo, sete edições da Série A e de, no mínimo, cinco
edições da Série B do Campeonato Brasileiro. O governo impôs
ainda algumas regras para as inscrições. Os clubes deverão publicar
balanços financeiros e os dirigentes não poderão ter nenhuma condenação
por crime doloso. Contudo a participação é voluntária, cabendo a cada
clube apto a decisão de participar ou não.
Felipe Gurgel - Repórter da Tribuna do Norte