Nas areias, com o beach soccer, o treinador Andrey Valério não precisa mais provar sua competência. Com experiências em várias seleções mundo à fora, em especial na Seleção Brasileira, o potiguar é um dos destaques da modalidade. No entanto, no futebol o técnico ainda busca seu lugar ao sol. No ASSU, a partir do segundo turno do Campeonato Estadual, Andrey começou a mostrar que merece ser observado mais atentamente pelos grandes clubes.
Alex Régis
Andrey Valério, técnico do Assu: Grupo gestor terá todas as condições de montar uma equipe
para disputar o título.
Andrey
começou no esporte como atleta de futebol nas categorias de base do
América na época do prof. Basílio. Depois foi para o ABC e Baraúnas. A
trajetória entre os clubes potiguares continuou com uma passagem pelo
Alecrim por solicitação de Ferdinado Teixeira. Era o ano de 1985, Andrey
então com 20 anos ganhou o primeiro título em novembro no Verdão e 30
dias depois festejou o nascimento do primeiro filho (George). Decidiu
trilhar os caminhos do futsal e após três anos como atleta do ABC,
ganhou o primeiro emprego como técnico à convite de Dennis Lisboa, indo
comandar a seleção de são gonçalo, com apenas 24 anos e ainda estudante
do curso de educação física. A trajetória no futsal contou ainda com
passagens pelo América onde, em 1992, levado por Arthuzinho, voltou ao
futebol profissional, sagrando-se bicampeão pelo Alvirrubro. Em
1995 foi para o ABC como preparador físico e depois voltou ao Alecrim.
"Ai já tinha atuação paralela com técnico de futsal e em 1999, após um
torneio em Mirassol onde a Potilândia foi campeã", relembra. Veio
então a novidade do beach soccer, onde se tornou o primeiro técnico da
seleção do Rio Grande do Norte. "Me dediquei ao máximo na modalidade e
consegui muito reconhecimento na mesma sendo técnico das Seleções do
Brasil, Uruguai, Venezuela e Costa Rica, onde tive a satisfação de ser
bicampeão do mundo com a seleção Brasileira e ter conseguido classificar
todas as outras para copa do mundo fifa de beach soccer. Nesta
modalidade também atuei como técnico do Flamengo/RJ e da seleção
Brasileira militar", comemora. No futebol, a primeira atuação
como técnico aconteceu em 2002 quando treinou a seleção universitária de
futebol. "Fomos vice campeões do Brasil, na equipe jogavam Marcelo
Henrique e Raniere, hoje fisiologistas do ABC", revela. No futebol
profissional estreou em 2004 treinando o Alecrim e no mesmo ano
comandou o Parnamirim na 2ª divisão. "Voltei ao alecrim em 2009 e 2010 e
conseguimos evitar o rebaixamento nestes anos. Em 2011 fui participar
de um projeto em Pau dos Ferros. Este ano, fui convidado pelo Souza e
pelo Daílson a fazer parte da reta final pela equipe do ASSU e estamos
desenvolvendo nosso trabalho aqui".Você está sendo considerado um dos principais treinadores do Estadual pela transformação que impôs no ASSU. A que você atribui essa opinião dos especialistas e da torcida ?
Fico muito feliz com isso, e agradeço esse reconhecimento. Sei também que desde do Ferdinando Teixeira, que no nosso futebol não revela um técnico. Espero quebrar esse tabu. Com relação ao que vem acontecendo com a equipe, é fruto da entrega dos atletas e da assimilação por parte deles da nossa forma de trabalhar.
Como você encontrou o ASSU? O que fez para transformar o time?
A equipe tem bons jogadores, porém não tinha feito um bom primeiro turno e já tinha perdido duas partidas do segundo. Pegamos um grupo desmotivado, mas que tinha dois jogos em casa. Chegamos na quinta-feira feira (8/3) e ao diagnosticar este quadro só nos restou entrar com a motivação e a melhoria do fator psicológico. Não mudamos nem a equipe que vinha jogando as outras partidas, trabalhamos o emocional e graças a Deus deu certo.
Todo mundo fala que sem estrutura não se formam bons times. O ASSU tem estrutura? ou essa máxima está errada?
Eu concordo plenamente com ela, não da mais pra se fazer futebol profissional sem estrutura, o ASSU tem campo de treinamento,onde manda os jogos, tem bons alojamentos para os atletas, boa alimentação, paga em dia, e da todas as condições para o desenvolvimento do trabalho, academia, material completo, médico, um excelente Massagista e um pessoal de apoio que não mede esforços para servir a todos do clube. É claro que ainda tem coisas que precisam melhor, mas para uma equipe que tem 10 anos e um título estadual acredito que esteja no caminho certo, caso contrario não teria conseguido isso.
Você é um técnico famoso no mundo inteiro por causa do Beach Soccer. O que levou do Beach Soccer para o futebol do ASSU?
Sempre quis seguir carreira no futebol, mas os compromissos do beach soccer (contratos) sempre me impediam, não ta sendo fácil, pois tive que recomeçar e encerrar muitas coisas num local que sou uma referência. No futebol tenho a consciência que sou mais um, e tenho que trabalhar muito pra conseguir meu espaço, por isso to muito motivado e disposto a seguir a carreira de vez no futebol. No beach Soccer já dei minha contribuição, é claro que não vou abandonar da noite para o dia, mas vou priorizar o futebol.
Mesmo que não consiga seu intento de estar no G-4 do Estadual, como você avaliaria seu trabalho? Como você avalia o ASSU?
De forma natural e muito feliz. Fui contratado pra reorganizar a equipe e graças a Deus conseguimos, cheguei no clube e já não se podia contratar e além disso dos 30 atletas oito deixaram o clube por terem recebido propostas de equipes dos seus estados de origem, mais uma vez a equipe ficou com a base do RN e os jogadores não decepcionaram. Acredito que os torcedores devam estar satisfeitos pela manutenção na Primeira divisão para 2013 sem nenhum risco e de forma invicta em casa no Segundo turno. Para 2013 acredito que o grupo gestor que esta se juntando ao ASSU terá todas as condições de realizar boas parcerias e montar uma equipe para disputar o título da competição.
Os especialistas em futebol sempre dizem que os grandes clubes da capital deveriam voltar os olhos para o interior na busca por novos valores. Isto é verdade? Agora trabalhando no interior você ver esses tão falados grandes valores? Quem você consideraria um bom nome para a disputa de uma Série B do Campeonato Brasileiro, por exemplo?
Antes de vir treinar o ASSU estava como representante da FNF e em vários jogos no Interior, vi bons jogadores, com as mesmas e até com mais qualidades do que os que vem precedidos de muita fama. Entre os que vi, o que mais me chamou atenção foi o Neto Maranhão que estava no Corintians de Caicó, cheguei até a indicar para amigos que tenho no ABC e no América, mas o Treze levou. Tem o Zé Paulo do Santa Cruz e aqui no ASSU tem o Flavinho, o Carlos, o Bruno Potiguar, o Diego Upanema e o Magno, que tem potencial para jogar tanto no ABC como no América. Porém, isso é muito relativo e a pressão sempre é maior nos da casa do que nos de fora.
Uma outra grande discussão diz respeito à valorização dos profissionais locais nos principais clubes do RN. Isso acontece? Você se sente discriminado?
Olha, se você pegar as grandes conquistas dos nosso clubes, você verá que na maioria elas foram conseguidas com um numero significativo de atletas da casa e formados no próprio clube. Hoje se você contar muito terá três ou cinco num grupo de 30 que foram formados no clube. Com relação aos profissionais que trabalham como técnico e preparador físico a situação é mais complicada, pois os técnicos sempre trazem suas comissões. Sobre se sinto discriminação, quero dizer o seguinte: Eu estou (re-)começando minha carreira de técnico no futebol neste ano, e espero ter minhas oportunidades, mas falando sobre o beach soccer, é duro você ser uma referencia mundial numa determinada modalidade e não ser reconhecido na cidade em que vive. Passamos por isso eu e o André (melhor jogador do mundo) e ninguém faz nada, e olhe que já fomos a quase todos os locais (secretarias de esporte, empresas) apresentar projetos para criação de escolinhas e até hoje nada. É triste, mas infelizmente é assim, a discriminação, a falta de valorização e reconhecimento existem".
Como treinador e também tendo enfrentado já boa parte dos clubes deste Campeonato Estadual e também aproveitando sua veia de comentarista de futebol. Qual a avaliação que você faz em relação a técnica das equipes e principalmente a parte tática. Existe algo inovador? ou estamos vendo mais do mesmo?
O futebol de forma geral esta muito nivelado, e o do RN não é diferente, o que faz a diferença é a entrega dos jogadores e suporte que lhes são oferecidos. Todos falam do Barcelona, mas aquilo lá é uma politica de estado e não de governo, ou seja o clube tem amplas condições de realizar desde sua base um trabalho onde a forma de jogar é espelhada na forma que joga a equipe principal e além disso existe o poderio econômico para ter, quando quiser os melhores do mundo por perto. Aqui no RN poucas equipes põe seus jogadores da base pra jogar e quando colocam o garoto tem que vencer 10 leões a cada dia, (o ultimo que jogou como titular com 17 anos foi o Souza e isso foi em 1992) pois não tem o que julgo fundamental para o atleta em formação, o intercâmbio. Nossas bases não jogam fora de Natal com costume e isso não dá experiencia ao jovem atleta e ele sofre quando é levado à equipe profissional. Fui diretor técnico da FNF e realizamos durante dois anos seguidos mais de 700 jogos nas categorias FIFA, SUB 13; SUB 15; SUB 17 E SUB 20, hoje as categorias são sub 16 e sub 18 e ai o garoto com 18 anos se não for um Gênio, tem que parar ou tentar a sorte nas equipes do interior sem qualquer experiencia. Acredito que temos que rever isso. A Copa São Paulo de futebol Junior não deve ser encarada como fim e sim como um meio, pra nossas equipes de base,aliás mais um meio. Por isso que estamos com dificuldades técnicas no nosso campeonato e sem muito a ser feito em termos táticos. Justamente em função desta deficiência que não é só nossa, mas que aqui infelizmente vem se acentuando em função de situações como essas que ocorrem nas nossas bases. A FNF até se esforça,mas os clubes tem que dar suas parcelas de contribuição e juntos melhorarem isso.
Sabemos que você é um grande "motivador" de grupos, inclusive com palestrar ministradas. Esse tipo de ação surte efeito mesmo? Tem sido utilizado pelo ASSU? Como funciona? Cite exemplos.
Desde que me tornei professor de educação física e técnico em 1989, que utilizo a motivação nos grupos que trabalho. Acredito muito no trabalho físico,técnico e tático, mas o psicológico é fundamental e faz a diferença, uma equipe com todos estes atributos bem trabalhados, mas sem controle emocional não chega a lugar nenhum. São três os fatores importantes do alto rendimento: A Inteligencia, a perseverança e a motivação. Sem eles o sucesso dificilmente chegará. No ASSU sempre iniciamos e fechamos um período semanal de trabalho com a parte motivacional. Certa vez no Alecrim onde pegamos os depoimentos de todas as esposas e mães dos atletas e apresentamos aos jogadores dentro do vestiário, antes do jogo, todos choraram muito, pois era o dia das mães e foram para campo com toda força e venceram o ABC em pleno Frasqueirão por 2x0, isso foi em 2008 eu era preparador físico e o técnico era o Erandi Montenegro.
Esse Campeonato tem sido marcado por polêmicas em torno de arbitragem. Que avaliação faz da competição e do nível da arbitragem?
Olha só na minha vida esportiva já vivenciei varias situações e uma delas foi ser preparador físico dos árbitros e personal de alguns, além de palestrante em diversos cursos de formação dos mesmos. Não sou de reclamar da Arbitragem, pois não dá resultado, a não ser minha expulsão. Por isso sempre passo para meus atletas que a reclamação não deve ser espalhafatosa sob pena de se tornar fator de problemas para nossa equipe dentro do campo. Agora por tudo isso que falei, tenho um pensamento, e já o tornei publico no Twitter, o árbitro de futebol também tem que treinar e não é só fisicamente, falo tecnicamente, e como seria isso, apitando uma vez por semana, nas folgas do profissional, os jogos das categorias de base, pois agindo assim assim estaria mais condicionado em relação às situações de jogo. Todos sabemos que os árbitros tem outras funções profissionais, mas deveriam fazer isso para compensar a semana que não trabalham pois perdem o ritmo técnico. Um árbitro que apita a cada oito dias é diferente de um que apita a cada 15, e isso implica diretamente nas suas ações de tempo de reação e decisão numa partida.
Há a possibilidade de você fazer um trabalho de longo prazo no ASSU, ou o contrato termina com o fim do Estadual?
Vim só pra terminar o Estadual. Depois a vida segue.
Fonte: Tribuna do Norte
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