Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo, está em Brasília para acompanhar a votação (Foto: Fabrício Marques)
A votação do projeto de renegociação das dívidas dos clubes no
plenário da Câmara dos Deputados deve ficar para a próxima semana.
Prevista inicialmente para esta terça-feira, a votação foi descartada,
juntamente com as de outros projetos, após reunião entre as lideranças
da casa. A proposta de renegociação das dívidas prevê prazo de até 25
anos para que os times quitem seus débitos. Em contra-partida, as
equipes ficarão sujeitas até mesmo ao rebaixamento em caso de dívidas
com a União. Na reunião desta terça, realizada no gabinete do
presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB / RN), os líderes dos partidos
concordaram em votar apenas medidas provisórias esta semana. São oito
itens pendentes, que trancam a pauta de votações do plenário da Câmara. Só MPs (medidas provisórias) nesta semana. Este é o acordo - afirmou o líder do governo, Henrique Fontana (PT / RS). Em
Brasília para acompanhar a votação do projeto, o presidente do
Flamengo, Eduardo Bandeira de Melo, minimizou o adiamento. Segundo ele, a
tramitação da proposta - iniciada em novembro do ano passado - está
seguindo um bom ritmo no Congresso Nacional. Pelo que soube, a votação vai ficar para o dia 27
(de maio). Estamos na expectativa, mas acredito que a tramitação está
sendo bastante rápida - disse Bandeira. A
proposta de renegociação das dívidas dos clubes foi aprovada no último
dia 7 de maio em comissão especial que discutiu por mais de cinco meses o
tema. O projeto ainda precisa ser aprovado pelos plenários da Câmara e
do Senado antes de seguir para sanção presidencial. Durante a votação nos plenários, o texto ainda pode
sofrer alterações sugeridas por deputados e senadores. A torcida de
Eduardo Bandeira é para que não sejam feitas grandes mudanças na
proposta aprovada na comissão especial. Se algum destaque for apresentado, espero que não
prejudique o espírito do projeto, que é estabelecer mudanças drásticas
na governança dos clubes. Os pontos principais do projeto são a cobrança
de medidas de responsabilidade severas, mas que são necessárias, e o
alongamento das dívidas fiscais - concluiu o presidente do Flamengo.
Entenda detalhes do projeto de renegociação das dívidasA
proposta de renegociação das dívidas dos clubes - que podem chegar a R$
4 bilhões - começou a ser discutida no Congresso Nacional em 2013, com a
apresentação do Proforte (Programa de Fortalecimento dos Esporte
Olímpicos). A ideia inicial era de que os times pudessem quitar até 90%
das dívidas por meio de investimentos em esportes olímpicos, com a
concessão de bolsas a atletas e compra de equipamentos. Os 10% restantes
seriam pagos em dinheiro. A proposta enfrentou rejeição na comissão especial
formada para discutir o tema. O relator, Otávio Leite, apresentou então
um projeto substitutivo, que ganhou o nome de Lei de Responsabilidade
Fiscal do Esporte (LRFE). De acordo com o novo texto, será dado um prazo
de 25 anos para que as instituições esportivas - o que não inclui
apenas clubes de futebol - possam quitar suas dívidas com a União
(débitos relacionados ao INSS, Imposto de Renda, FGTS, Timemania e Banco
Central). Apesar de acabar com a possibilidade de troca de
parte dos débitos por incentivos em esportes olímpicos, o substitutivo
prevê algumas condições especiais. A taxa de juros aplicada ao
parcelamento seria a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que conta com
índices bem menores do que a Selic, taxa normal. Há ainda a
possibilidade de pagar apenas 50% das 36 primeiras parcelas, facilitando
a adequação financeira dos clubes. Os outros 50% deste período seriam
pagos apenas ao fim do parcelamento.
O deputado Otávio Leite é o relator do projeto da renegociação das dívidas (Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados)
O substitutivo mantém os conceitos do "fair play
financeiro", propostos no texto inicial. A ideia é que os clubes sejam
obrigados a apresentar as Certidões Negativas de Débitos (CNDs) para
poderem participar das competições. Os times que não cumprissem a regra,
correriam risco até de rebaixamento. Para entrarem no refinanciamento,
os clubes também ficariam proibidos de antecipar receitas que estejam
além do fim do mandato das diretorias. Os mandatos ficam restritos a um
período máximo de quatro anos, com a possibilidade de apenas uma
reeleição. Para compensar o fim da possibilidade de troca de
dívidas por investimentos em esportes olímpicos, o novo texto também
propõe a criação de um Fundo de Iniciação Esportiva (IniciE), destinado a
apoiar projetos para crianças e jovens matriculados em escolas da rede
pública ou em instituições especializadas reconhecidas pelo Ministério
da Educação. A distribuição do fundo seria descentralizada - cada estado
seria responsável por gerir seus próprios recursos. O dinheiro seria
arrecadado por meio da loteria e da Lei de Incentivo ao Esporte. Entre as novas formas de loteria que seriam
autorizadas pelo projeto, está a criação de uma raspadinha ligada aos
clubes. O texto prevê também a possibilidade de criação de um sistema de
apostas online, que seria executado, direta ou indiretamente, pela
Caixa Econômica Federal ou por algum novo órgão que poderia ser criado
pelo Poder Executivo.
A proposta ainda autoriza a Caixa a promover
mudanças na Timemania, de forma a tornar o sorteio mais atraente, e
isenta os prêmios da Loteca, da Lotogol e da própria Timemania do
desconto do Imposto de Renda, aumentando o benefício pago aos
apostadores.
Por Fabrício MarquesBrasília
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