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domingo, 19 de maio de 2013

Ruy Cabeção quer fazer história no América


Ruy Cabeção já não é um garotinho com o sonho de se tornar um jogador profissional cercado de fama e dinheiro. Aos 35 anos, o agora volante, ex-lateral, já se preocupa com o futuro longe dos gramados e defende a aposentadoria remunerada para os ex-atletas do futebol. Mas antes de pôr um ponto final na carreira, ainda pretende voltar a disputar alguns dos principais campeonatos do Brasil. Recém-contratado por empréstimo pelo América-RN para a disputa da Série B do Brasileiro após ter sido destaque do Alecrim no Campeonato Potiguar, ele não esconde temer a violência das torcidas nas arquibancadas. A ponto de não permitir mais que a mulher e as filhas compareçam aos estádios para assistirem a seus jogos. Desde os meus oito anos, quando comecei a frequentar estádios, eu vejo no noticiário que aconteceram brigas, confusões, e que morreu gente. Hoje eu estou com 35 anos, e o noticiário é o mesmo. E nada é feito. Eu, sinceramente, não vejo saída para essa situação. Já cheguei a ser perseguido por torcedores na época do Botafogo. Por isso, eu não levo mais a minha família para os jogos. Não quero que uma das minhas filhas seja o próximo Kevin Spada (torcedor boliviano que morreu após ser atingido por um rojão atirado por um torcedor do Corinthians). A violência no futebol é algo que tira o Cabeção do sério. Mas há outras preocupações. Com passagens por clubes tradicionais do futebol brasileiro, como Cruzeiro, Botafogo, Grêmio e Fluminense, Ruy chegou ao Alecrim, de Natal, após um anúncio feito no microblog Twitter
Lema seguido à risca
Uma das frases que Ruy Cabeção costuma postar com frequência no Twitter é "trabalhar sempre, desistir nunca". Segundo o jogador, esse é seu lema de vida e resume muito bem tudo o que já enfrentou em quase 30 anos de futebol. Ele relembra alguns sacrifícios que precisou fazer para se tornar jogador e destaca o apoio que sempre recebeu da família. Eu comecei a jogar bola com seis anos. Na época de juvenil, no América-MG, eu acordava às 5h e pegava dois ônibus para chegar ao treino. Depois, eu ia direto para a aula. Só dormia meia-noite e meia, e na manhã seguinte já começava tudo novamente. Muito sacrifício. Mas é assim mesmo. Trabalhar, trabalhar e trabalhar sempre. Desistir nunca, porque só assim é que a gente conquista as coisas na vida.
Saudade e 'adoção'
Ruy Cabeção, do Alecrim (Foto: Gabriel Peres/Divulgação) 
Ruy Cabeção mata saudade da família pela
internet  (Foto: Gabriel Peres/Divulgação)
Ruy não tem papas na língua e fala sobre qualquer assunto sem problema algum. Uma das poucas coisas que o fazem tirar o sorriso do rosto e se emocionar é falar sobre as duas filhas. Ele diz que morar longe das herdeiras é a sua maior dor, mas afirma que tem uma estratégia para amenizar o sofrimento. Isso me incomoda muito, porque eu sei que não vou ver a minha esposa e as minhas filhas quando chegar em casa. Mas chega uma hora em que a gente já não deve sacrificar tanto as pessoas. Eu prefiro que elas fiquem em Belo Horizonte, perto da minha mãe e da minha sogra. Por isso, eu tento me aproximar dos jogadores mais jovens e "adotá-los", para que eles preencham esse vazio que eu sinto.
Direito trabalhista
A aposentadoria é algo que preocupa Ruy Cabeção. Aos 35 anos, o jogador sabe que a carreira está chegando ao fim e já começa a planejar a vida pós-futebol. Ele defende a ideia de que os atletas devem se aposentar como qualquer outro profissional e convoca os colegas de trabalho para se juntarem a essa luta. Eu acho que todo trabalhador tem direito a uma aposentadoria. A gente trabalha com carteira assinada, e todos os nossos impostos são recolhidos. Então, o jogador também tem que receber uma ajuda do governo para não acabar na miséria. Cerca de 90% dos jogadores de futebol do Brasil ganham menos que dois salários mínimos. Fico me perguntando como esse pessoal vai conseguir tirar o sustento da família no futuro.
Contra o fim dos estaduais
Ruy Cabeção, volante do América-RN (Foto: Jocaff Souza) 
Ruy Cabeção defende a manutenção dos estaduais
(Foto: Jocaff Souza)
O fim dos campeonatos estaduais é um assunto que volta e meia aparece nas discussões de mesa de bar e debates de programas de rádio e TV. Ruy é totalmente contra essa hipótese e tem argumentos fortes para a manutenção das disputas regionais. Muitos atletas trabalham apenas quatro meses durante o ano e vivem os outros oito meses com o dinheiro que ganharam durante os estaduais. O que vamos fazer com os jogadores que ficam sem emprego durante dois terços do ano? É nos estaduais que eles tentam mostrar serviço e buscar uma vaga em uma outra equipe que tenha calendário até o fim do ano. Temos estádios gigantescos espalhados pelo país. O que a gente vai fazer com eles caso os estaduais acabem?
Ressurgimento no Alecrim
Segundo Ruy, o fator financeiro pesou muito para jogar na capital do Rio Grande do Norte. Ele revela que o acerto com o Alecrim só foi concretizado na época porque o técnico Roberto Fernandes, do América-RN, o convenceu a aceitar a proposta da equipe natalense. Com o bom desempenho, Roberto Fernandes acabou puxando-o com Elton para disputar a Série B no Mecão.
Ruy Cabeção é a estrela do Alecrim no Campeonato Potiguar (Foto: Augusto Gomes) 
Ruy Cabeção foi um dos astros do Alecrim no Campeonato Potiguar
(Foto: Augusto Gomes)
Uma das coisas que me convenceram a jogar em Natal foi a conversa que tive com o professor Roberto. Nós tivemos um momento muito bom no Náutico, e, quando surgiu a proposta do Alecrim, foi para ele que eu liguei e procurei me informar. Hoje a gente vê equipes tradicionais com dificuldades de cumprir com as suas obrigações. São poucas as que pagam os salários em dia. Sobre isso, não tive o que reclamar do Alecrim. E isso traz uma tranquilidade muito grande para o profissional. Como não tinha mais chances de chegar à final do Estadual nem de se classificar para a Série D do Brasileiro, o Alviverde, sem calendário oficial para o restante da temporada, acabou emprestando Ruy e Elton para o América. Outras "estrelas" do time, como Claiton (ex-Inter, Botafogo, Flamengo e Atlético-PR) e Stefano Seedorf (holandês primo do craque Clarence Seedorf, do Botafogo), poderão ter férias forçadas até o fim do ano. Mas o volante, que anunciou a renovação de contrato até 2016, acha que poderá ser útil ao América. Agora é casa nova. O estado é o mesmo e estou muito feliz com a oportunidade. Mas isso só foi possível graças ao Alecrim, onde renovei por mais três anos e agora consegui esse acerto com o América. Vamos conhecer os novos companheiros, para que nós possamos fazer um grupo forte para esse difícil campeonato, que é a Série B. Ruy Cabeção espera cumprir bem a missão. E se depois tiver que retornar ao Alecrim, garante ter motivação extra. Montamos um grupo qualificado, com grandes jogadores, mas infelizmente não alcançamos o objetivo traçado pela diretoria. Mas valeu a tentativa do presidente Anthony (Armstrong). Foi uma atitude bem arrojada, de tentar resgatar um clube que passava por dificuldades financeiras há vários anos. O importante é que ele tem o pensamento de continuar com esse projeto. E eu quero fazer parte desse processo de ressurgimento do Alecrim - disse.
Por Tiago Menezes Natal

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