Vicente Estevam - Repórter
O
futebol do Rio Grande do Norte apresenta um dado no mínimo curioso.
Apesar de ser considerado uma espécie de "primo pobre" ante estados mais
desenvolvidos economicamente e com mais tradição futebolística no País,
o Estado possui, inscritos na Federação Norte-rio-grandense de Futebol -
FNF e na Confederação Brasileira de Futebol - CBF, 2.652 jogadores
amadores. Pernambuco, estado vizinho que conta com dois clubes na Série A
do Campeonato Brasileiro tem registrado apenas 1.652 atletas. Enquanto
Alagoas - que como os potiguares disputaram a Série B com dois
representantes - tem 1.688 inscritos. O presidente da Federação
Norte-riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, não sabe explicar o
motivo de um número tão grande de registros nas categorias amadoras, mas
credita a "inflação" do mercado a falta de atualização cadastrais por
parte dos clubes. "Muitos clubes surgem, inscrevem seus atletas e depois
se esquecem de dar baixa. Essa pode ser uma das explicações para o
caso", justificou o dirigente. Esse processo ocorre justamente em
um período onde apenas 21 clubes disputaram ou estão aptos a disputar
as competições oficiais promovidas pela FNF. Como fazer futebol é
considerado uma atividade muito cara, fica difícil acreditar em elencos
com número superiores a 200 atletas em cada um dos nossos
representantes. Logo, isso dá margem a se pensar no mercado especulativo
agindo na garimpagem de novos valores. Numa época em que o
empresário ainda é bastante contestado no mundo do futebol, pelo fato de
ser uma figura nova no cenário e que muitas vezes age fora dos
princípios do mercado para conseguir os direitos federativos sobre os
atletas. A classe é acusada de criar dificuldades para os clubes
investirem em suas categorias de base. Os dirigentes culpam a Lei Pelé,
por não dar garantias aos clubes formadores e permitirem que a lei do
mercado impere nas categorias amadoras. Mas pelo visto, no RN o mercado
está aquecido. O futebol envolve quantias vultosas e levando-se
em consideração apenas os números colhidos no BID da CBF, esse fabuloso
mercado gerou para FNF receita na ordem de R$ 53.040, levando em
consideração que para primeira inscrição de um atleta amador é cobrada
uma taxa de R$ 20,00 a agremiação requisitante. José Vanildo não
sabe quantos empresários estão operando no futebol local, mas salienta
que a FNF tomou medidas para tentar inibir a ação maléfica daqueles que
não se preocupam com a formação dos garotos, enxergando a meninada
apenas como um produto que pode gerar lucros fáceis. "Uma das
primeiras medidas que tomei quando assumi a presidência da FNF, foi
reduzir o número de clubes amadores e ligas esportivas, que existiam
apenas no papel e que poderiam servir como clubes 'incubadeiras',
emprestando apenas os nomes das agremiações para empresários registrarem
os seus atletas", afirmou o dirigente. Outra medida para impedir
o livre mercado no cenário amador, foi a taxação da transferência de
atletas. "Quando cheguei na FNF essa taxa tinha um preço irrisório, hoje
para um jogador passar de um clube para o outro é cobrado mil reais.
Dos quais R$ 250, 00 ficam para FNF e o restante (R$ 750,00) é repassado
ao clube que formou o jogador e está abrindo mão do mesmo", informou
José Vanildo, ressaltando que a medida moralizou o número desenfreado de
transferências.
Força e Luz não é clube "incubadeira"
Se
o antigo Santa Cruz hoje é comandado por um grupo de empresários, o
Força e Luz, que há quatro anos chegou a ser presidido pelo
vice-prefeito Paulinho Freire, hoje voltou as mãos do seu presidente
eterno Ranilson Cristino, que mesmo sem dispor de recursos, através de
alguns auxílios dá prosseguimento ao trabalho na busca de revelar jovens
jogadores. "Nesse tempo todo que eu trabalho com futebol, eu só
recebi 11.500 euros, que nos foi repassado pela Roma, depois que a Fifa
reconheceu o Força e Luz como clube formador de Matuzalém", afirma
Ranilson, que além de dirigente presta serviços como auxiliar de
contabilidade. Ranilson é daqueles que passou a acreditar que a
janela no futebol, tando dentro das quatro linhas quanto fora delas,
atuando como dirigente ou empresario, faz o sol brilhar para poucos e
ressalta que não tem mais o sonho de ganhar dinheiro com essa atividade. Hoje
o seu trabalho, ao invés dos lucros, visa ajudar os jovens do conjunto
Pajuçara, onde mantém a escolinha do Força e Luz. "Minha satisfação hoje
é livrar os jovens do mundo marginal. Já conseguimos revelar vários
jogadores. Nessa temporada, por exemplo, quando não tivemos condição de
competir, repassei os nossos atletas para vários outros clubes sem
cobrar nada. Se engana quem pensa que o Força e Luz é um clube que serve
de incubadora", ressalta. Ranilson estuda uma proposta para
trabalhar no Globo, clube que será refundado em Ceará Mirim e vem com
uma proposta sólida de trabalhar não só a formação de atletas, mas a
transformação de jovens em cidadãos.
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