O ESPORTE DE ASSU E REGIÃO, OBRIGADO PELA VISITA

domingo, 2 de dezembro de 2012

Paraíso do mercado amador

Vicente Estevam - Repórter

O futebol do Rio Grande do Norte apresenta um dado no mínimo curioso. Apesar de ser considerado uma espécie de "primo pobre" ante estados mais desenvolvidos economicamente e com mais tradição futebolística no País, o Estado possui, inscritos na Federação Norte-rio-grandense de Futebol - FNF e na Confederação Brasileira de Futebol - CBF, 2.652 jogadores amadores. Pernambuco, estado vizinho que conta com dois clubes na Série A do Campeonato Brasileiro tem registrado apenas 1.652 atletas. Enquanto Alagoas - que como os potiguares  disputaram a Série B com dois representantes - tem 1.688 inscritos. O presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, não sabe explicar o motivo de um número tão grande de registros nas categorias amadoras, mas credita a "inflação" do mercado a falta de atualização cadastrais por parte dos clubes. "Muitos clubes surgem, inscrevem seus atletas e depois se esquecem de dar baixa. Essa pode ser uma das explicações para o caso", justificou o dirigente. Esse processo ocorre justamente em um período onde apenas 21 clubes disputaram ou estão aptos a disputar as competições oficiais promovidas pela FNF. Como fazer futebol é considerado uma atividade muito cara, fica difícil acreditar em elencos com número superiores a 200 atletas em cada um dos nossos representantes. Logo, isso dá margem a se pensar no mercado especulativo agindo na garimpagem de novos valores. Numa época em que o empresário ainda é bastante contestado no mundo do futebol, pelo fato de ser uma figura nova no cenário e que muitas vezes age fora dos princípios do mercado para conseguir os direitos federativos sobre os atletas. A classe é  acusada de criar dificuldades para os clubes investirem em suas categorias de base. Os dirigentes culpam a Lei Pelé, por não dar garantias aos clubes formadores e permitirem que a lei do mercado impere nas categorias amadoras. Mas pelo visto, no RN o mercado está aquecido. O futebol envolve quantias vultosas e levando-se em consideração apenas os números colhidos no BID da CBF, esse fabuloso mercado gerou para FNF receita na ordem de R$ 53.040, levando em consideração que para primeira inscrição de um atleta amador é cobrada uma taxa de R$ 20,00 a agremiação requisitante. José Vanildo não sabe quantos empresários estão operando no futebol local, mas salienta que a FNF tomou medidas para tentar inibir a ação maléfica daqueles que não se preocupam com a formação dos garotos, enxergando a meninada apenas como um produto que pode gerar lucros fáceis. "Uma das primeiras medidas que tomei quando assumi a presidência da FNF, foi reduzir o número de clubes amadores e ligas esportivas, que existiam apenas no papel e que poderiam servir como clubes 'incubadeiras', emprestando apenas os nomes das agremiações para empresários registrarem os seus atletas", afirmou o dirigente. Outra medida para impedir o livre mercado no cenário amador, foi a taxação da transferência de atletas. "Quando cheguei na FNF essa taxa tinha um preço irrisório, hoje para um jogador passar de um clube para o outro é cobrado mil reais. Dos quais R$ 250, 00 ficam para FNF e o restante (R$ 750,00) é repassado ao clube que formou o jogador e está abrindo mão do mesmo", informou José Vanildo, ressaltando que a medida moralizou o número desenfreado de transferências.

Força e Luz não é clube "incubadeira"

Se o antigo Santa Cruz hoje é comandado por um grupo de empresários, o Força e Luz, que há quatro anos chegou a ser presidido pelo vice-prefeito Paulinho Freire, hoje voltou as mãos do seu presidente eterno Ranilson Cristino, que mesmo sem dispor de recursos, através de alguns auxílios dá prosseguimento ao trabalho na busca de revelar jovens jogadores. "Nesse tempo todo que eu trabalho com futebol, eu só recebi 11.500 euros, que nos foi repassado pela Roma, depois que a Fifa reconheceu o Força e Luz como clube formador de Matuzalém", afirma Ranilson, que  além de dirigente presta serviços como auxiliar de contabilidade. Ranilson é daqueles que passou a acreditar que a janela no futebol, tando dentro das quatro linhas quanto fora delas, atuando como dirigente ou empresario, faz o sol brilhar para poucos e ressalta que não tem mais o sonho de ganhar dinheiro com essa atividade. Hoje o seu trabalho, ao invés dos lucros, visa ajudar os jovens do conjunto Pajuçara, onde mantém a escolinha do Força e Luz. "Minha satisfação hoje é livrar os jovens do mundo marginal. Já conseguimos revelar vários jogadores. Nessa temporada, por exemplo, quando não tivemos condição de competir, repassei os nossos atletas para vários outros clubes sem cobrar nada. Se engana quem pensa que o Força e Luz é um clube que serve de incubadora", ressalta. Ranilson estuda uma proposta para trabalhar no Globo, clube que será refundado em Ceará Mirim e vem com uma proposta sólida de trabalhar não só a formação de atletas, mas a transformação de jovens em cidadãos.

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