O Campeonato Potiguar de Futebol Feminino não poderá ter público.
Isso porque o local escolhido para o certame foi o Estádio Juvenal
Lamartine, que está com as arquibancadas interditadas pelo Corpo de
Bombeiros por apresentar uma estrutura precária. Se não haverá torcida
em campo, sobrará marcas de abandono e esquecimento em um patrimônio
histórico do Rio Grande do Norte. O cenário é de deterioração com o
tempo e falta de manutenção, e é com essa realidade que as jogadoras
irão conviver a partir do dia 7 de maio, data do início da competição. Quem
entra no estádio se depara primeiro com a ferrugem tomando conta das
grades que separam a arquibancada do campo. Mais à frente, um vazamento
de água inunda todo o corredor que da acesso à arquibancada e ao
banheiro. A escada para o seu acesso está aos pedaços e com os corrimãos
também enferrujados. Os banheiros são um dos pontos mais críticos: não
há água, revestimento com cimento e, nem mesmo em casos de urgência,
podem ser utilizados. No chão há muitos entulhos e, em alguns pontos,
fios aparecem soltos.
Estádio Juvenal Lamartine se encontra em péssimas condições;
arquibancadas estão interditadas (Foto: Cedida)
São
essas condições que as cinco equipes participantes do estadual feminino
irão conviver por dois meses, tempo de duração do campeonato.
Participarão o Alecrim, Cruzeiro-RN, Globo FC, Parnamirim e União.
Segundo o
GloboEsporte.com apurou, as reclamações
surgem das jogadoras de ao menos quatro clubes, mas muitas optam por não
se identificarem nas denúncias. Temem represálias. A atleta Iwlly
Sabrina, do Parnamirim, é uma das que se mostram insatisfeitas com a
situação e decidiu falar. É um pouco incômodo. A gente não
vai poder levar nem familiar, nem amigo. O futebol feminino já é uma
coisa tão difícil que é complicado querer e não poder. Muitas pessoas
sabem que a gente joga bola e não vai poder estar lá por estar
interditado. A gente vai para um lugar que não vai poder mostrar o que a
gente realmente gosta de fazer. Muitos amigos sabem que eu jogo e não
poderão ir lá. Isso frustra o sonho de quem joga futebol - desabafou. O
GloboEsporte.com tentou entrar em contato com o presidente José Vanildo, da FNF, mas ele se recusou a falar sobre o assunto.
IMPASSE JUDICIAL
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Banheiros do JL não funcionam; onde está o respeito com as atletas do RN? (Foto: Cedida) |
Desde
2015, o estádio enfrenta um impasse judicial entre a Federação
Norte-rio-grandense de Futebol, atual responsável pelo local, e o
Governo do Estado, detentora por lei. Enquanto não for resolvido, a FNF e
o Governo não podem realizar reformas na estrutura. O único cuidado
permitido é com o gramado. No entanto, a deterioração antecede o
processo. O Juvenal Lamartine está em estado de destruição desde quando era permitido realizar
reformas estruturais. A procuradora responsável pelo processo, Marjorie
Madruga, afirma que uma visita no início de 2015, ano em que o processo se iniciou, dava conta da péssima
condição do estádio. A reintegração de posse foi pedida porque o
estádio está há muitas décadas na mão da FNF e se encontra deteriorado há muito tempo.
Eles tinham a obrigação de conservar e não conservaram - afirma a
procuradora. Atletas que frequentam o estádio também afirmam que os problemas
antecedem o processo de reintegração de posse. O vazamento de água no
corredor de acesso aos banheiros e às arquibancadas existe desde 2012.
As
jogadoras dos clubes participantes do estadual e adeptas da modalidade
se articulam para tentar um diálogo com a FNF em busca de alternativas.
Rayane Rocha, ex-jogadora e amante do futebol feminino, é uma das que se
mostram preocupadas com a situação. Longe das competições, Rayane pede a
união dos cinco clubes para articular a mudança. Ela lamenta a situação
de não poder prestigiar o estadual e a exposição das jogadoras à falta
de estrutura. A situação é constrangedora. Há até mesmo
perigo para as atletas porque o vestiário e o banco de reservas do
Juvenal são debaixo das arquibancadas, que estão interditadas por
estarem deterioradas. É preciso que os cinco clubes se unam para sentar
com o presidente da FNF, José Vanildo, e procurar alternativas. Se unir
para o bem do esporte. Não é para haver críticas destrutivas, mas
dialogar e buscar soluções juntos. Se o futebol feminino continuar do
jeito que está, a tendência é afundar - declarou Rayane Rocha.
* Estagiário sob supervisão de Augusto César Gomes.
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