Contra
tudo e contra (quase) todos. Foi desta maneira que Claudinha Gadelha a
caçula dos quatro filhos de Luis Carlos e Ivaneide, em Mossoró, no Rio
Grande do Norte, a 300km da capital, Natal, costurou boa parte de sua
carreira. Contratada pelo UFC, reconhecida nas ruas após ser treinadora
do TUF 23, estável financeiramente e, hoje em dia, incentivada pela
família, ela atravessa a melhor fase da carreira - o ápice pode ser no
UFC desta sexta-feira, quando ela disputa o cinturão peso-palha contra
Joanna Jedrzejczyk. O título serviria para coroar quem abriu mão do
conforto do lar para se arriscar em outras capitais, deixou para trás
problemas com drogas e provou para os parentes que o MMA era uma
profissão digna. A minha carreira foi bem difícil, é
uma história de superação. Eu sempre soube o que queria da minha vida,
sabia que chegaria até aqui. Não mudei em relação à minha personalidade,
sou tranquila, focada no meu trabalho e na minha vida. A vida mudou
bastante, tenho uma vida melhor, consigo ter o carro que eu quero, morar
onde eu quero. É gratificante, consequência de um bom trabalho. Tive
fases muito difíceis, mas sempre com a certeza que as coisas mudariam -
declarou, em entrevista exclusiva ao Combate.com. Filha
de um comerciante e de uma enfermeira, Gadelha, de 27 anos de idade,
enfrentou os principais percalços da vida quando esteve sozinha em Natal
e no Rio de Janeiro. Os pais a ajudavam financeiramente do jeito que
conseguiam. A vontade de vencer através do esporte era grande, prova
disso é que nem o envolvimento com drogas na adolescência freou a sua
caminhada. Ana Clécia, uma das irmãs de Claudinha,
conta que tomava as dores da mãe por se sentir responsável pela caçula
quando ela "aprontava". Minha mãe era rígida. Teve uma época que a Claudinha saiu do foco
querendo sair tarde, beber e usou de drogas, isso a afastou. Nossa irmã
mais velha (Ana Célia) morava em Natal, casou com 17 anos, e eu morava
em casa. Tomava as dores pela minha mãe, porque eu era mais velha que a
Claudinha. Na adolescência, Claudinha chegou naquela situação de
acreditar que
a família não é nada, que os amigos são tudo. Quando buscou a rua para
dar
apoio, não encontrou muita gente bacana, fez coisas erradas, eu e minha
irmã temos uma postura séria em relação a bebida, drogas e cigarro. O
choque de gerações entre Claudinha e Ivaneide colocavam frente a frente
duas mentalidades diferentes em relação a um mesmo assunto: o MMA. A
jovem vislumbrava um futuro como lutadora, enquanto a matriarca queria
um rumo mais tradicional. Agora vemos esporte como
uma coisa boa, mas antes ninguém aceitava um negócio desse, a mulher
era discriminada, eu não aceitava de jeito nenhum. Uma amiga psicóloga
me falou para não falar isso na frente da Claudinha. Teve uma vez que eu
a acompanhei em um evento e, quando foram anunciar um lutador, falaram
que não tinha ninguém para acompanhá-lo. Aquilo me marcou, porque a
minha filha saiu dos meus braços, foi para tão longe, enfrentou sozinha
vitórias, decepções, palavras agressivas. Hoje eu penso diferente,
comecei a entender. Quando ela começou a ficar famosa, vi que o negócio
era sério, não era brincadeira. Cheguei a agredi-la com palavras, porque
eu não acreditava, achava que ela estava fazendo uma coisa ruim. A
minha cabeça estava atrasada - diz, emocionada, dona Ivaneide. A
desconfiança virou orgulho. Na realidade, Ivaneide explica que não era
fácil entender que a filha levaria socos, chutes e ficaria machucada,
com hematomas. Afinal, tratava-se da xodó da família, a pequena rebelde
dos Gadelha. Eu sou apaixonada por todos os meus filhos, mas ela é especial, porque é
caçula, me dói muito estar longe dela. Queria que ela ficasse aqui, a
galinha quer sempre o pintinho debaixo da asa. Eu nunca assisti às
lutas dela, dói como mãe. Se ela sofre um arranhão, leva um murro, não
quer nem ver. Fico no quarto, de olhos fechados, rezando, só
quero saber o resultado. Estou louca por essa próxima luta dela. Eu vejo
ela e a outra (Joanna) se enfrentando nas redes sociais, estou com a
cabeça na luta.Diante de tanta falta de informação a
respeito do MMA, Claudinha Gadelha teve no pai o apoio necessário para
nocautear os obstáculos. Ela entrou na universidade, como ele sempre
quis, porém, a incentivou enquanto muitas vozes iam contra a opção de se
tornar lutadora.
Por Evelyn Rodrigues, Marcelo Barone e Marcelo RussioDireto de Las Vegas, EUA
Nenhum comentário:
Postar um comentário