Emanuel Amaral
O volante chegou ao América no início da temporada e,
pela determinação em campo, virou ídolo
"É muito complicado perder a mãe. Como não sabia quem era meu pai, já que minha mãe nunca quis me dizer, fiquei só muito novo. Ainda dei sorte de poder morar com minha avó e depois com minha tia. Graças a Deus que não fui para o lado ruim da vida e sempre batalhei por tudo", relembra Baiano. Sem muitas perspectivas, ele foi morar com a avó materna. O convívio, mais uma vez, durou pouco tempo. A dona morte, mais uma vez, fez uma incômoda visita a casa de Ricardo Baiano e levou sua avó. Isso, dois anos depois de perder a mãe. Sem mais ninguém a quem recorrer, foi morar com uma tia, dona Nite, que a considera como sua segunda mãe. Não tendo como se sustentar, Baiano resolveu arregaçar as mangas e aos 13 anos, começou a trabalhar. Durante a madrugada, se virava em um açougue, esperando a carne para vender no mercado de Mirangaba. Quando saia de lá, já no fim de manhã, corria para uma panificadora, seu segundo emprego, para completar o dinheiro do mês. O sonho de ser jogador de futebol persistia na cabeça daquele adolescente de apenas 15 anos de idade. Chances até que teve nos times de Mirangaba e das cidades vizinhas. Mas, mais uma vez, outra barreira se colocou a sua frente: ainda jovem, iniciou a vida no álcool, o que lhe tirou chances de se profissionalizar. "Comigo não tinha muita besteira não. Sempre que tinha um tempo livre dos trabalhos, ia para os bares beber. Comecei quando tinha de 12 para 13 anos. Parei há 10 anos, porque estava atrapalhando meu rendimento dentro de campo. Mas, quando bebia, perdia a noção de tudo, Ainda bem que nunca me envolvi com drogas e também com problemas com a polícia. Só fazia mal a mim mesmo", revela. Foi em uma bebedeira dessas, que conheceu seu melhor amigo, Nei. E, foi com ele que conseguiu a primeira chance como jogador de futebol profissional. O ano era 1998. Ricardo, então com 18 anos, ficou sabendo que um dirigente do Ceará, estava na sua cidade atrás de jovens valores para jogar na equipe cearense. Mas, a necessidade de trabalhar, quase o impediu de realizar seu sonho. "Fiquei com medo de ir atrás do pessoal do Ceará por dois motivos: primeiro, eu sabia que não era o melhor jogador da cidade e não ia ter muitas chances. E o segundo, não queria arriscar sair da minha cidade, ir bater no Ceará, abandonar meu emprego e não ter sucesso. Mas, o dono da padaria em que trabalhava me disse que, se eu não conseguisse sucesso no futebol, poderia voltar que o emprego estaria garantido. Foi o incentivo que precisa. Fui embora", afirma. A viagem com destino a Fortaleza não saiu como Ricardo e os outros três amigos esperavam. Nenhum deles foi aproveitado nas categorias de base do Ceará. Sem perspectivas, foram tentar a sorte no Ferroviário/CE. E foi quando ela finalmente apareceu. E rápido. A passagem de Baiano pelas categorias de base da equipe cearense só durou uma semana. Mas, o sucesso e os bons contratados demoraram a aparecer. Muito por causa da sua pouca técnica com a bola nos pés. Foi quando ele decidiu mudar seu estilo e passou a se dedicar mais aos treinamentos. "Só comecei a ter boas chances, quando estava com 28 anos. Passei por 18 clubes até melhorar. Consegui isso a base de muito esforço e dedicação. Sempre, antes dos treinamentos, ficava sozinho, tentando aprimorar os passes, aprender a dar lançamentos. O pessoal até pensava que eu era maluco, de tanto que treinava. Mas, tive a minha recompensa", afirma. Perto de encerrar a carreira de jogador, Baiano já pensa no futuro. O seu principal investimento, atualmente, é na compra de terrenos, para construir casas e alugar. "Tem muito jogador que pensa que o dinheiro vai durar para sempre. Não é bem assim. Do que adianta sair a noite, gastar mil reais em bares? A única coisa é que ele vai ficar mil reais mais pobre. Eu não faço isso. Prefiro economizar para o futuro", afirma.
Felipe Gurgel - repórter de Esportes/Tribuna do Norte
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