Os dois maiores clubes do RN estão com um desafio que tem se mostrado difícil no mundo do futebol: planejar a temporada do próximo ano com alguma antecedência. Ambos enfrentam problemas financeiros, vivem período eleitoral e ainda não conseguiram profissionalizar as suas gestões. O ano de 2016, com o país em crise econômica e as empresas protegendo seus capitais, demonstra que os novos dirigentes terão de usar de muita imaginação e criatividade para conseguir gerir ABC e América sem desagradar a torcida e o conselho deliberativo. Em termos financeiros, o América viveu um ano bem mais difícil que o ABC. A queda para série C tirou do alvirrubro receitas consideradas importantes como a cota da televisão para os clubes que disputam a série B (R$ 2,9 milhões) e mais o patrocínio da Caixa, que em 2014 rendeu cerca de R$ 2 milhões ao clube. Dessa forma, a equipe apostou todas as suas fichas na manutenção de um elenco forte e caro, no sentido de tentar o acesso a divisão dos clubes emergentes já na atual temporada, mas a perda da vaga para o Confiança fez o sonho se transformar num pesadelo, que terá de ser enfrentado a qualquer custo. A profissionalização da gestão nos clubes é uma necessidade, mas no Brasil, um estudo da Pluri Consultorias demonstra que esse cenário é irreal e no Nordeste, ainda se trata de uma grande utopia. O ex-presidente Jussier Santos acredita que o emocionalismo é o principal adversário das gestões dos clubes potiguares, portanto o motivo que detona qualquer tentativa de se implantar um tipo de administração mais adequado ao cenário.
Magnus Nascimento
Ex-presidente do América Jussier Santos acredita que o emocionalismo
é o principal adversário das gestões dos clubes potiguares
“O
emocionalismo, na minha visão, é o grande mal que se abate sobre o
nosso futebol. Além disso, os clubes estão sendo corroídos também por um
processo de corrupção, se não houver modificação nesse quadro o nosso
futebol não vai demorar muito para acabar como seguimento. A qualidade
já caiu bastante em decorrência desses problemas”, afirmou Jussier
Santos. No ABC, o cenário atual é basicamente igual ao vivido
pelo clube em 2009. O Alvinegro estava em processo eleitoral, a oposição
tocava fogo na política do clube, que vinha mal na série B, não contava
com boas arrecadações e o cenário de terra arrasada se confirmou com o
rebaixamento para série C, com o nome do então presidente Judas Tadeu
em baixa com a torcida. Mas num claro sinal de que realizando o
trabalho correto os resultados não demoram a surgir, a equipe do
presidente Rubens Guilherme assumiu o comando abecedista em 2010
conquistando, além do acesso para série B, o título do Campeonato
Brasileiro da série C, considerado o maior feito do clube no futebol.
Rodrigo Sena/Arquivo TN
Flávio Anselmo diz que ABC corre risco de entrar em colapso financeiro
“A
situação financeira naquela época, quando a gente assumiu junto com
Rubens Guilherme, era complicada. Mas nós sabíamos exatamente quanto
devíamos e quanto poderíamos investir. Começamos com uma folha salarial
de R$ 79 mil na disputa do Estadual e fomos campeões brasileiros com uma
folha de R$ 250 mil. Hoje a folha do futebol está muito onerada”, disse
Flávio Anselmo, o primeiro vice-presidente de futebol da “era Rubens
Guilherme”. Mas em alguma época dentro desses cinco anos, o trem
do profissionalismo descarrilou e a mesma gestão de sucesso chega a sua
parte final repetindo os mesmos erros das gestões anteriores. “Antes
havia muito rigor nas contratações, hoje não parece que exista essa
mesma preocupação. Começaram a contratar atletas com salário fora da
realidade do mercado local e cujo futebol não correspondia ao valor
pago. Vinha o protesto da torcida e logo eram contratados outros para
salvar a pátria, o que se tornou um problema para o clube que corre um
grave risco de entrar em colapso financeiro”, salienta Flávio. A
figura do dirigente torcedor se tornou bastante perigosa para os clubes
após a implementação da “Lei Pelé”, que obriga os clubes a pagarem
integralmente os salários acertados com os atletas. “Ou se acaba com
essa Lei Pelé ou o futebol como existe hoje no Brasil vai acabar. Ela
aumentou ainda mais o buraco financeiro dos clubes de futebol no Brasil.
Nosso futebol continua revelando jogadores, mas os melhores se
transferem cedo para Europa. O clube não tem como segurar os atletas
formados na base por que estão endividados e é por isso que a qualidade
foi lá para baixo”, ressalta Jussier Santos.Planejamento esbarra na incerteza das receitas
De acordo com o levamento realizado pela Pluri Consultoria, no Brasil, o único clube que se mostra na luta contra o amadorismo na gestão do futebol é o Flamengo. Com Eduardo Bandeira a frente da administração, o rubro-negro vem dando passos cada vez mais firmes no sentido de profissionalizar sua gestão. Mas a realidade vivida pelo gigante brasileiro, difere bastante dos demais clubes, principalmente os da região Nordeste. Por exemplo, a diretoria do ABC hoje ainda não sabe as receitas que terá em 2016, as duas únicas cotas definidas são as da participação na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste, as demais simplesmente ainda precisam ser confirmadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário