O ESPORTE DE ASSU E REGIÃO, OBRIGADO PELA VISITA

terça-feira, 8 de maio de 2012

VERMELHO E BEM JUSTO



Foto:Canindé Soares

O domingo, 6 de maio de 2012 está consagrado pela vontade vermelha como o Dia do Carimbo. Nada de atos ou decretos oficiais. Foi o povo quem decidiu. O América é o legítimo campeão potiguar de 2012 por ser o melhor time do Rio Grande do Norte por talento e opção filosófica. A festa vermelha no Frasqueirão era uma sentença dos cafundós fantasmagóricos. Ninguém, com o mínimo de senso, imaginaria uma reviravolta na redenção obtida pelo América em três pauladas no seu maior rival durante uma competição tida como favas contadas pela soberba que acometeu o ABC. É quando se perde a sua própria identidade que se perde a razão de viver, quanto mais um Campeonato Estadual. O ABC deixou de ser o abrigo dos humildes, do povão, da massa de pés descalços, para inverter a ordem secular: O clube da elite nas atitudes passou a dar as cartas na Rota do Sol. O América percebeu e entendeu. Foi buscar na sua tradição o bálsamo da volta por cima, perfeita quando cantada pelo sambista negro Noite Ilustrada. Ninguém interpretou melhor a composição do gênio paulistano Paulo Vanzolini, em 1962, ano em que fomos bicampeões inacreditáveis. Sem Pelé, com Amarildo em seu lugar e Garrincha jogando por um time inteiro. O América reconheceu sua queda, não desanimou, levantou, sacudiu a poeira e as humilhações desde o ano passado, quando a serenidade blasé do deputado Hermano Morais, eleito presidente numa boca de fogo semelhante a um tiroteio no Complexo do Alemão. Começou ali. O amor próprio do americano renasceu numa disputa de Série C. Sem estádio, sem dinheiro, sem prestígio, com sentimento. Na dificuldade, irmão reconhece irmão e o afeto moral de Goianinha reacendeu em cada coração rubro: Estamos vivos, podemos resistir, reviver, florescer do espinho. O América conseguiu o acesso à Série B, reagrupou velhas tendências contrárias, uniu-se e partiu para o Campeonato Estadual com nova diretoria, à frente o empresário e torcedor sem sangue aristocrata, Alex Padang. O América perdeu três clássicos seguidos para o feioso e covarde esquema tático do ABC jogando melhor. Manteve o brio ferido e o instinto de recuperação aceso. Lutou. Por pouco não foi degolado no segundo turno e entraria 2013 com 10 anos, mais que um ciclo cabalístico de frustrações. Ganhou a primeira peleja. O oponente fez que não era com ele. O América venceu outra vez. Ainda assim, contou com a providencial empáfia abecedista. Ganhou a terceira e a vantagem na decisão de ontem. Se readaptou à possibilidade de empalmar uma taça. O América que buscava o gol, jogava para a frente, queria a vitória como convicção, de jeito nenhum por sortilégio, sopro de sorte, azar do concorrente. O América foi ao Estádio Maria Lamas Farache num domingo pobre fora de campo. Cito o nome completo da dama que empresta o nome ao estádio do ABC por saber que uma faixa chamando o lugar de chiqueiro foi posta na sede do clube. Foi um surto de falta de respeito. O América não precisava da grosseria para ser campeão por ter um técnico mais competente , um time superior e a tendência de crescer na hora certa. Dona Maria Lamas Farache foi uma grande cidadã dos tempos de civilidade. Amava o ABC como filho. Ela e o marido, Vicente. Nos idos de quando os autores da ideia infeliz sequer eram projeto de gente. Mas a guerra ridícula entre dirigentes de ABC e América pela mídia, trocando ofensas, estava apenas começando. O ABC perdeu o senso, de ridículo e de cortesia, impedindo à truculência a transmissão do jogo ao vivo para Natal, talvez para que a cidade fosse poupada do triste e enganoso futebol que só aos xiitas convencia. O América é campeão por merecimento. Depois de nove anos, seu torcedor poderá olhar o mapa do Rio Grande do Norte, de Vila Flor, no Agreste, até Venha-Ver, na Tromba do Elefante e saber que a posse futebolística dos seus 53 mil quilômetros quadrados volta a pertencer ao clube da Rodrigues Alves. O América sempre quis ganhar. O ABC vencia se fosse o caso, estabelecendo um tipo de estelionato tático fantasiado de eficiência pragmática e futebol de péssima qualidade. Sempre atrás, fechado e defensivo, distante da essência do que está perdido na poeira dos alfarrábios. Time valente, guerreiro, ofensivo. O ABC de hoje, radical, raivoso e pouco desportista, tem o dever de mudar em respeito à memória de homens como Vicente Farache, Aluísio Bezerra, José Prudêncio Sobrinho e, sobretudo, da fidalguia altiva de Ernani da Silveira. O América é campeão. Por entender que longe é um lugar que não existe e das humilhações recomeçam as glórias. O resultado de 2x0 só não é um detalhe por ter sido de Fabinho, velocidade etíope e estilo de ritmista da Portela, o gol que carimbou o título. Fabinho, melhor jogador do Estado.
Por Rubens Lemos

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