O Nogueirão, em Mossoró, está interditado para qualquer prática esportiva.
A decisão tomada pelo 2º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Mossoró,
que leva em consideração o fato de que as obras para a melhoria da
segurança no local não tenham sido executadas conforme o planejado,
bloqueia a utilização do estádio. Inaugurado em 4 de junho de 1967, o
Estádio Manoel Leonardo Nogueira é a principal praça esportiva da região
Oeste do Rio Grande do Norte. Sem o Nogueirão, o futebol de Mossoró,
que já agoniza com a falta de investimentos para disputar o Campeonato
Potiguar, pode se complicar ainda mais. Às vésperas da estreia na Série D do Campeonato Brasileiro, o Potiguar
teve a confirmação apenas na terça-feira que não poderia jogar em casa. A
escolha pelo Estádio Edgarzão, que fica na cidade vizinha de Assú,
distante cerca de 80 km de Mossoró, vai gerar custos extras para a
direção alvirrubra. A equipe, por sinal, só foi montada na última
quarta-feira e já sofreu com a demisão do técnico Edivaldo Oliveira.
Mastrillo Veiga assumiu o comando na sexta-feira. Para o presidente do
Potiguar, Marco Antônio Fernandes, a situação é de desespero.
O
dirigente desabafou ao GloboEsporte.com e disse que, se não houver uma força-tarefa para a captação de investidores, "o futebol de Mossoró vai morrer". Eu vejo com muita tristeza essa situação do Potiguar. Parece até uma
novela e daquele tipo bem complicada. Nós que fazemos o futebol daqui
dependemos muito do Nogueirão. Se não tomarem as providências cabíveis, o
futebol de Mossoró vai morrer. Os problemas do estádio são evidentes e
as autoridades competentes precisam agir. Não temos apoio financeiro
porque os empresários não se manifestam para apoiar os clubes. A
prefeitura não se manifestou e nós temos que bancar muitas coisas -
desabafou o presidente do Potiguar de Mossoró. Nas 43 participações dos clubes mossoroenses no estadual - a primeira
aconteceu em 1974, com o Potiguar; o Baraúnas só estreou em 1976 -, a
cidade esteve representada no topo do pódio em apenas três ocasiões: em
2004, com o Potiguar; em 2006, com o Leão do Oeste; e em 2013, novamente
com o Alvirrubro. Desde 2014, a dupla "PotiBa" sofre para mandar seus
jogos no Nogueirão e só consegue por força de liminar na justiça, com a
assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta com os Bombeiros e a
prefeitura. Apesar de não ter qualquer atividade profissional neste segundo
semestre, o Baraúnas também sofre com a interdição do Nogueirão. O
local, que poderia servir para o treinamento das categorias de base, não
pode abrir os portões para a população. O vice-presidente do Leão,
Gilson Cardoso, lamentou o "estado de abandono" do Nogueirão e pediu
providências à classe política da cidade. Eu vejo a situação como muito preocupante. Não estamos sentindo na
pele agora porque estamos sem atividades. Mas acredito que falta vontade
da classe política da nossa cidade, faltam ações para reformas ou até
construção de um novo estádio. Tempos atrás, houve a divulgação de uma
maquete para a reforma de um 'novo Nogueirão', mas não passou disso. É
um dos principais estádios do Rio Grande do Norte, mas que está quase
abandonado. Lamento profundamente a situação do Nogueirão - disse
Cardoso.
Ex-jogadores lamentam a ausência do Nogueirão
Ídolo das torcidas do Baraúnas e do Potiguar, o ex-atacante Cícero Ramalho vê com tristeza a interdição do Nogueirão. Carrasco do Vasco na Copa do Brasil de 2005, quando defendia o Leão do Oeste, Cícero revelou ao GloboEsporte.com
ter feito grande parte dos gols durante a carreira profissional em
Mossoró e lamenta que o estádio não tenha a história respeitada. O
ex-jogador citou ainda que o Potiguar de Mossoró, que vai disputar a
Série D do Campeonato Brasileiro deste ano, terá gastos extras por ser
"obrigado" a jogar fora de casa. É uma situação extremamente triste, porque é um estádio em que eu fiz
mais gols na minha vida. Vendo essa situação, chego até chorar de
desgosto. Eu gostaria que órgãos competentes tomassem alguma
providência, mas é uma pena. Infelizmente, eu não posso fazer nada. Para
mim, é uma tristeza total. Nós vemos outros estádios pelo Rio Grande do
Norte, que não têm a grandeza e até a importância que o Nogueirão tem e
são mais cuidados, com condições boas para a torcida e para os clubes.
Quando uma equipe deixa de jogar em casa para enfrentar um adversário em
outro estádio, mas sendo o mandante do jogo, acaba sofrendo um gasto
enorme e desnecessário. O Potiguar foi obrigado a jogar longe de Mossoró
e vai pagar com isso - criticou Cícero Ramalho.
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Cícero Ramalho foi ídolo no Baraúnas e Potiguar de Mossoró e fez história no Estádio Nogueirão (Foto: Augusto Gomes/GloboEsporte.com) |
Outro ex-jogador que teve grandes momentos no Nogueirão é Júnior
Xavier. O ex-atacante começou a carreira no Potiguar de Mossoró, em
1980. Depois, atuou pelo Fortaleza, Vitória, Grêmio, e Americana. Na
volta ao Rio Grande do Norte, jogou no ABC, Baraúnas e encerrou a
carreira no Time Macho, em 1998. Hoje, é comentarista de uma rádio em
Mossoró. Se o nosso futebol continuar se apagando dessa forma, no máximo em
cinco anos não vai ter mais clubes. Acho também que é uma perseguição
muito grande ao estádio. O campo foi liberado pela justiça, mas a
interdição dos Bombeiros acaba sendo uma injustiça ao torcedor e aos
clubes. O futebol é a maior atividade apaixonante do mundo e em Mossoró
também. Acho um desrespeito com todos nós. O futebol daqui está se
apagando e considero heróis essas pessoas que seguem à frente dos
clubes. O Potiguar vai disputar um Campeonato Brasileiro, um monte de
clube sonha em estar nessa situação, e o nosso futebol com problemas com
o estádio. Por que as coisas no Nogueirão são feitas de uma forma e em
outros estádios não acontecem também? Eu questiono, por exemplo, os
corrimãos que foram instalados aqui e no Frasqueirão, que possui um
lance de arquibancadas bem superior, não tem. Qual o critério para essa
avaliação? É preciso que as entidades responsáveis andem juntas, caso
contrário não teremos mais futebol na nossa cidade - desabafou Júnior
Xavier.
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Júnior Xavier encerrou a carreira em 1998, no Potiguar de Mossoró; atualmente, é comentarista esportivo (Foto: Divulgação)
Por Jocaff Souza, Natal
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