O ESPORTE DE ASSU E REGIÃO, OBRIGADO PELA VISITA

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

José Vanildo, o garanhão da FNF

A garagem do número 2017 da Rua Marcílio Furtado é uma área aberta que permite ao passante ver o que está abrigado nela. Qualquer transeunte não daria a menor importância para qual veículo foi jogado sob o sol causticante de uma manhã de janeiro, não fosse o fato de haver uma ambulância acomodada nesse espaço da casa, que não é um hospital. Encarado mais de perto, observa-se no carro de socorro um brasão em vermelho e verde, sobre os quais se sobressai o branco da sigla FNF (Federação Norte-rio-grandense de Futebol).  “Estaria o futebol potiguar na UTI?”, pensei antes de entrar.  Ao comprar o veículo, o atual presidente da federação, José Vanildo(Foto), foi considerado um senil, conforme seu próprio relato. “O presidente da comissão nacional de antidoping veio aqui e me chamou de louco. Em outros cantos não tem. Vou comprar um ônibus e agora dizem que eu endoidei de vez”. Há oito anos à frente da FNF, o cartola implementou mudanças de modernização e demitiu “vinte e tantos funcionários”. “A federação historicamente era tratada de forma paternalista e de pouco investimento em recursos humanos, administrativo. Isso não era novo porque acompanhava a inércia dos filiados. A federação atual procurou se modernizar, oferecer estrutura de capacitação”,  enumera o presidente. Das glórias que relata, contudo, a maior é o investimento em marketing, sobre o qual Vanildo fala com o mesmo entusiasmo de uma criança que acabou de ganhar um brinquedo e ainda não sabe direito como mexer. “É pra isso que eu tenho Alan”, diz em referência ao jornalista e diretor da agência de marketing esportivo 10 Sports, Alan Oliveira. Se por um lado ele não sabe exatamente como funciona, por outro procura meios para fazê-lo porque sabe que há retorno. Ao longo da conversa de quase uma hora e meia, encadeou sob seu bigode as palavras “marketing”, “produto” e “divulgação” vinte e uma vezes. “O marketing é o segredo. É por isso que eu elogio meu bigode. Você tem que conjugar o verbo marquetear em todos os tempos”, explanou antes de uma pausa dramática, depois da qual completou gaiatamente: “Eu tô foda hoje! Tô um típico heterossexual ativo”. Falta combinar com mais empresários, no entanto, que o futebol potiguar é um produto no qual vale a pena investir. Até lá, a cartela de parceiros permanece com 10 nomes: Pitú, Fetronor, 10 Sports, Fecomércio, Salesiano, Garra, Esporte Interativo, Ster Bom, Penalty e Sparta. O nome de maior peso, a Chevrolet, largou o apoio ao futebol potiguar e de outros estados. Quem ficou, teve o anonimato fiscal garantido por José Vanildo, que não revelou quem paga quanto para ter sua marca exibida nos estádios. “Não tenho ideia”. Atualmente, uma placa de publicidade custa a um cliente R$ 30 mil. Se quiser duas nos estádios, há um pacote por R$ 45 mil. Se mais lhe convier, o pacote é definido pela periodicidade de exibição e quantidade de anúncios. Se todos os 10 nomes da atual cartela pagarem o valor mínimo, há uma receita com publicidade na ordem de R$ 300 mil. “Os empresários inteligentes investem no futebol. O futebol é bancado por empresário. E 99% não são daqui. E sabe por que eles são de fora? Porque eles são burros. Porque eles são ignorantes. A Pitú quando investe aqui é porque futebol não tem futuro. A Chevrolet quando investe aqui é porque o futebol é uma porcaria, sim porque ele está jogando dinheiro fora. O Salesiano quando investe é porque o futebol aqui não é sério. Claro que não é isso. É porque eles sabem o valor que o futebol tem para divulgação com a marca deles”, protesta o dirigente ironicamente. Zé Vanildo, como também é conhecido, atribui ao “ranço cultural contra o futebol” a resistência, sobretudo dos empresários locais, em investir “no meu produto futebol”. Algo menos subjetivo pode ajudar a entender o distanciamento. A transmissão do futebol na maior emissora do país cai anualmente. Para transmitir os jogos da primeira divisão, que não tem um time do Rio Grande do Norte, a Globo tem patinado nos 15 pontos de audiência em pleno domingo, muito distante da glória atingida na década de 1990, quando uma final chegava a marcar mais de 50 pontos. Os times associados à FNF jogam, via de regra, com transmissão de emissoras fechadas, com audiência não conhecida pelo público.
Fonte/NovoJornal

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